Somos um grupo de pesquisa que estuda tanto a falta quanto o excesso de intervenções no parto. No Brasil, sofremos do pior dos dois mundos: as mães e bebês sofrem e morrem tanto pela falta de intervenções necessárias, quanto pelo excesso de intervenções desnecessárias, e às vezes de uma combinação dos dois problemas

Quando clinicamente justificadas, intervenções obstétricas (como a indução ou a aceleração do trabalho de parto com drogas, ou a cesariana) podem reduzir a mortalidade e morbidade materna e perinatal.

No entanto, para a grade maioria de mulheres e bebês saudáveis que não precisam delas, essas intervenções podem bloquear processos fisiológicos essenciais, privar mãe e bebê de seus benefícios, e além de aumentar a morbidade neonatal, e pode induzir alterações epigenéticas (a forma como os genes se expressam), que passam de uma geração para outra. Hoje sabemos, por exemplo, que as mulheres nascidas de cesárea têm um risco aumentado de problemas quando estiverem grávidas, como o diabetes gestacional.

Muitas intervenções perinatais contemporâneas realizadas antes do início do trabalho de parto impedem ou interrompem os mecanismos vitais da transição fetal-neonatal, reduzindo seus benefícios e expondo mães e recém-nascidos a riscos adicionais. Do ponto de vista científico, hoje sabemos que não entrar em trabalho de parto é um dos principais problemas que enfrentamos (no curto prazo, e para a saúde futura dos nascidos).

Mas este conhecimento ainda é muito recente, e a assistência ao parto atual ainda precisa se atualizar para acompanhar os avanços da ciência, garantindo não apenas que mais gestantes cheguem ao trabalho de parto, mas também que esta experiência seja positiva, com uma assistência humanizada e baseada em evidências.

Por outro lado, em muitas situações as mulheres que precisavam de assistência médica no pré-natal (como nos casos de gravidezes de risco) ou no parto (como as mulheres que precisavam de uma cesárea por ter bebês em posições desfavoráveis ao nascimento) muitas vezes não conseguem a assistência necessária, resultando em mortes preveníveis.

Por este motivo, estamos desenvolvendo uma classificação dos tipos de intervenções no parto, com base nos dados do SINASC, levando em conta: 1) se a mulher entrou em trabalho de parto espontaneamente; 2) se o parto foi induzido; 3) se terminou em uma cesárea ou um parto vaginal, e as combinações entre estas intervenções.

Conheça nossa classificação de tipos de intervenções no parto aqui